Signs (2002) M. Night Shyamalan
Fé. Ter fé é acreditar, acreditar em coincidências, que tudo acontece por uma razão ou o futuro nada mais é do que um conjunto de acontecimentos aleatórios que dão origem ao caos existencial intimo a cada um. É esta a premissa base que gira em torno deste suspense sobrenatural que Shyamalan, mais uma vez consegue criar e desenvolver de uma forma tão criativa como habitual, muito embora com notórias influências em Hitchcock, fazem dele um realizador único que tem sempre algo a dizer e uma forma muito original, que é precisamente a principal característica para conseguir ser visto como um realizador de eleição. È essencial conseguir ter-se e mostrar essa visão do mundo e capacidade para absorver essa informação de forma a criar algo de verdadeiramente original.
A história do filme é muito simples, uma invasão alienígena global vista através de uma família rural. O pai, antigo reverendo afectado na sua fé através de uma perda próxima, os dois filhos, imaginativos e interventivos, e o irmão mais novo, que vive com eles para os ajudar num momento difícil. São estes os personagens, a que se cruzam uma série de elementos usados por Shyamalan para construir a lógica do filme. Lógica essa que se serve de utensílios como copos de água, rádios para bebés, memórias antigas e ate um livro sobre aliens para criar o mundo deste filme. Não são precisos grandes efeitos ou até grandes meios para construir esta história e importantes elementos como estes servem para estes personagens irem avançando a história e criar o suspense necessário que os rodeia. Mas não só a história, mas também a forma como é filmada é algo que faz parte da originalidade do realizador e acrescenta criatividade ao filme. O filme avança de uma forma muito lenta, mas nunca dá monotonia uma vez que a encenação de todas as cenas tomam o seu tempo próprio e timing perfeito para nos aproximar de uma forma mais intima desta família, olhar único sobre os seus personagens e atracção pelo enredo. É tudo feito com um cuidado extremo nos pormenores e desenvolvimento muito atento dos personagens de tal forma que no fim do filme temos uma ligação tão grande com esta família, que é precisamente por isto que o mistério e intriga funciona tão bem. Mas não é só por termos essa ligação e pela forma como a história é contada que o filme resulta, é também porque Shyamalan sabe mesmo filmar, ele sabe elaborar um plano em função da personagem e acima de tudo sabe como encenar uma cena. Isto só pode resultar numa montagem clássica de grande simplicidade e qualidade que em momentos chave nos conseguem trazer valentes sustos.
Mas um elemento novo até aqui em Shyamalan é o humor. Num filme em que há momentos de grande tensão, ele consegue ter elementos de grande lucidez cómica desanuviando um bocado essa intensidade, aspecto que resulta muito bem se tivermos em conta que este é dos seus filmes mais “sci-fi” e para não se levar demasiado a sério em certos momentos de irrealismo. Mas apesar disso não deixamos de nos sentir ligados emocionalmente, muito pelo contrario. É nos momentos de verdadeira tensão que não deixamos de estar ligados a estas personagens.
Quanto ás interpretações, de realçar apenas todas. Abigail Breslin e Rory Cuklin muito sólidos apesar da idade provando que Shyamalan sabe mesmo dirigir actores, independente da idade ou qualidade, ainda por mais neste caso ambos têm um papel fundamental no desenrolar da história. Joaquin Phoenix talvez dos melhores do filme, uma vez que consegue ser um perfeito secundário, e provando ter um timing óptimo especialmente nos momentos mais cómicos equilibrando muito bem com a tensão inerente. Por fim, Mel Gibson num registo muito diferente do que habitualmente mostra, muito mais contido e ao mesmo tempo atormentado, já um bocado á imagem que Bruce Willis tinha feito.
Em suma, o filme resulta muito bem em toda a sua lógica própria, consegue desenvolver uma ideia disfarçada de filme de terror conseguindo até dizer algo. O cinema, e em especial este género não têm que ter uma mensagem, alias muitas vezes até nem o deve. Devia ser apenas privilegiar a história, mas neste caso resulta muito bem uma vez tratar-se não de um filme de terror propriamente dito, mas uma mistura de um dilema existencial com um drama sobrenatural.
Melhor - A forma como o filme se prepara e elabora para fazer sentido.
Pior - Após se ver a primeira vez, não se conseguir esquecer de tudo para a segunda.