segunda-feira, 7 de julho de 2008

Critica

Quem é o ladrão?

Ladri di biciclette (The Bicycle Thief) (1948) Vittorio De Sica

Em 1948, e numa altura em que a Itália, por repercussões da segunda Guerra Mundial, estava inundada em pobreza e desemprego, o cinema tornou-se um meio de expressão importante, reflectindo essa condição social.
O Neo-realismo italiano é uma marca muito importante da época no cinema do pais. Este reflectia condições muito quotidianas, de luta, dificuldade, e condições humanas precárias. Privilegiava o uso de não actores, e filmava muito em locais que reflectiam essas mesmas insuficiências. A ideia seria recriar um melhor sentido de realidade, fugir á encenação imaginativa e eloquente, e criar algo mais cru.
Ladri di Biciclette é composto por muitos desses elementos, e é igualmente por uma história muito simples. Ricci, um homem de família procura emprego numa Roma onde simplesmente não havia hipótese de recusar uma oferta. E quando esta oferta surge, ele vê-se obrigado a mentir dizendo “sim eu tenho uma bicicleta” para poder cumprir as suas novas funções de Colador de cartazes. Após a sua mulher penhorar os lençóis de família para recuperar uma bicicleta igualmente penhorada, ele parte com a maior felicidade do mundo, e como seria previsível pelo titulo, logo na sua primeira tarefa, é-lhe roubada a bicicleta. Ora o resto do filme não é mais do que a tentativa desesperada de Ricci e do seu filho, recuperarem o seu único meio de trabalhar.
Um dos melhores méritos do realizador (Vittorio de Sica) é conseguir, com uma história simples, e filmado de uma forma muito realista e sem grandes artifícios, directa e sem grande preparação, fazer com que o espectador sinta muito pelas personagens e simpatize com elas, dando um coração enorme a este pequeno filme. É incrível como aos 20 minutos de filme, e sem ter havido um grande desenvolvimento de personagens, a cena do roubo, tenha um impacto tão grande na empatia com Ricci. Estamos todos á espera que o ladrão fuja, mas não há ninguém que não sinta uma grande aflição pela angustia do personagem principal. Isto só demonstra uma terrível eficácia na forma como a história é apresentada. A própria interpretação de Lamberto Maggiorani, um actor não profissional, que acabou por trabalhar outras vezes com De Sica, é extremamente humana, mais real do que Ricci, só mesmo fora do cinema. Mesmo datando de 1948 acreditamos perfeitamente que ele é uma pessoa como qualquer outra na altura que passa por aquelas dificuldades.
Parte da temática neo-realista é também este sentimento de consciência social, e de retrato do estado em que o país se encontrava. E a pobreza cíclica, representada por Ricci e pelo seu filho, são destinos difíceis de escapar devido a todas as condicionantes que a população menos privilegiada tinha. De Sica mostra-nos as possibilidades que este homem tinha na vida e os poucos caminhos que tinha para percorrer. Não há muitas opções, ou escolhas nestas vidas carenciadas. Dai o “ladrão” de bicicletas é simbolismo para as poucas alternativas que um homem tinha. Mas por outro lado, a felicidade é também algo que o personagem chega a conseguir, mesmo que por breves instantes, e motivado pelos mais simples dos acontecimentos, como a refeição que pai e filho partilham no restaurante como meio de fugir á dura realidade. Isto mostra que mesmo com poucos meios, e no meio de extrema pobreza, a mínima alegria é um momento de pura, embora fugaz, felicidade.

Melhor A Caracterização a todos os níveis de Ricci
Pior Uma ou outra coincidência na procura pela bicicleta (mal menor)

2 comentários:

Ticius disse...

Parece.me interessante, uma ideia simples. E a banda sonora como é? tipica da época e italiana?

Lex disse...

banda sonora sem grande relevancia, normal para um filme desta decada